Vivemos em uma era de abundância. Nunca antes tivemos tantas opções, tantas carreiras possíveis, cursos online gratuitos, oportunidades de empreender, formas de investir e caminhos para crescer. À primeira vista, isso parece um presente. Mas, como nos mostra o capítulo 2 de “O Óbvio que Ignoramos” de Jacob Petry, essa abundância pode ser uma armadilha silenciosa.
A ideia central: muito pode significar nada
Ao contrário do que pregamos por muito tempo, o que paralisa o ser humano moderno não é a falta de oportunidades, e sim o excesso delas. A mente humana tem dificuldade em lidar com múltiplas possibilidades quando não há um propósito claro para guiá-la. Isso gera ansiedade, dúvida constante, arrependimento crônico e a sensação de estar sempre fazendo “a escolha errada”.

Segundo Barry Schwartz, autor do livro O Paradoxo da Escolha, quanto mais opções temos, maior a chance de nos sentirmos insatisfeitos com qualquer decisão que tomamos. Isso ocorre porque passamos a imaginar o que poderíamos estar vivendo se tivéssemos seguido a outra opção – um fenômeno conhecido como “fomo” (fear of missing out, ou medo de estar perdendo algo).
O peso psicológico da indecisão
A psicologia já identificou que a paralisia por análise é uma das maiores causas de procrastinação. Quando uma pessoa não tem clareza sobre o que quer, qualquer ação parece arriscada. Esse comportamento tem raízes profundas no funcionamento do cérebro: somos programados para buscar segurança. Tomar uma decisão significa abrir mão de outras – e o medo de errar nos mantém presos em um ciclo interminável de reflexão e inação.
Carol Dweck, psicóloga da Universidade de Stanford e autora de Mindset, nos lembra que pessoas com mentalidade de crescimento lidam melhor com decisões difíceis porque estão mais abertas ao aprendizado e menos focadas em “parecer inteligentes” o tempo todo.
Quando o excesso desorganiza: o Experimento de Stanford

Um dos exemplos mais chocantes do capítulo é o experimento da prisão de Stanford. Nessa simulação, participantes saudáveis foram divididos entre “guardas” e “prisioneiros”. O resultado? Em poucos dias, sem um propósito claro, os voluntários perderam o senso de realidade. Houve colapso emocional, abuso de poder e total desorganização. A experiência mostrou que a ausência de propósito pode destruir até mesmo estruturas mentais saudáveis.
O poder transformador do propósito: Viktor Frankl
Em contraponto, a história de Viktor Frankl nos campos de concentração nazistas é um exemplo inspirador. Ele sobreviveu ao horror porque tinha um motivo claro: encontrar sentido mesmo na dor. Frankl escreveu que “aqueles que têm um ‘porquê’ conseguem suportar quase qualquer ‘como’”. Essa clareza de propósito funcionava como uma âncora em meio ao caos.
Conceito Kelleher: clareza é liberdade
Hellen Keller afirmava que “a pior coisa é ter olhos e não ter visão”. Jacob Petry traz à tona o chamado “Conceito Kelleher”: quando você sabe exatamente o que quer, fica imune às distrações. Propósito traz direção, e direção traz paz. Com isso, as escolhas se tornam mais fáceis porque tudo que não está alinhado ao seu propósito automaticamente é descartado.
Insights contemporâneos e neurociência
Na obra O Jeito Harvard de Ser Feliz, Shawn Achor explica que nosso cérebro tem um sistema de codificação preditiva: quando esperamos o melhor, passamos a enxergar mais oportunidades positivas. Sem um foco claro, esse sistema se desorienta – e deixamos de ver o óbvio.
Charles Duhigg, em O Poder do Hábito, reforça que pessoas que mudam de vida não necessariamente têm mais recursos. Elas têm mais clareza e um gatilho de ação bem definido. A transformação parte de dentro, da decisão de romper com a dúvida e agir com foco .

A fórmula do sucesso em um mundo com excesso
- Defina o seu propósito com brutal honestidade. Pergunte: “Se eu pudesse fazer uma única coisa pelos próximos 10 anos, o que seria?”
- Reduza as opções. Menos é mais. Filtre suas possibilidades com base no que é essencial para seu objetivo.
- Crie um sistema de tomada de decisões. Isso evita que você se desgaste com cada nova escolha.
- Use a disciplina como ferramenta de proteção. Em O Poder da Ação, Paulo Vieira afirma: “Tem poder quem age, e mais poder ainda quem age certo e massivamente” .
Conclusão
O excesso de oportunidades é o novo vilão silencioso da nossa geração. Ele nos ilude com liberdade, mas nos prende em confusão. O antídoto é o propósito. Saber o que se quer transforma o mundo em um lugar mais simples, mais claro e infinitamente mais leve. No fim, não se trata de escolher certo ou errado, mas de escolher com consciência.
Deixe um comentário